Em entrevista ao Suno Notícias, o CEO da Multiplike Volnei Eyng falou sobre o mercado de crédito no Brasil. Entenda nessa conversa as vantagens para tomadores de crédito, investidores e como o setor deve expandir nos próximos anos. Abaixo você pode conferir a transcrição da conversa.
Eduardo Vargas (SUNO): Queria pedir para você explicar nesse início de conversa, resumidamente, como funciona a Multiplike, o que vocês fazem dentro do mercado hoje? Vocês cresceram bastante nos últimos anos.
Volnei Eyng (Multiplike): A Multiplike é uma asset, ela capta dinheiro no mercado, tem o passivo bastante pulverizado, e repassa esse dinheiro a médias e grandes empresas, especificamente focado no setor de agronegócio que representa 20% dos negócios, 20% também para construção civil e 60% da indústria em geral de transformação.
Trabalhamos de uma maneira mais simples que banco, uma operação de crédito que chega no cliente de uma maneira mais rápida e menos burocrática, e assim a casa vem crescendo.
Eduardo Vargas (SUNO): Como está a percepção de vocês para o agro hoje, como que vocês olham para o setor? Ano passado foi um ano bem glorioso, esse ano teve alguns solavancos no primeiro trimestre com algumas quebras na safra muito pontuais. Como é que vocês estão enxergando agro no Brasil, já que estão na ponta na concessão de crédito?
Volnei Eyng (Multiplike): Continuamos enxergando bem. O Brasil é o celeiro do mundo todo, e a cada três ou quatro anos temos aí um ou dois anos de ressaca, mas nada muda em relação aos investimentos que a gente faz. Hoje o mundo precisa comprar os grãos do Brasil, a tecnologia que o produtor rural tem aqui é grande, a tecnologia das empresas que revendem para o produtor é grande. Então esse ciclo de um preço as vezes menor do commoditie faz parte, mas gostamos muito desse segmento. Não temos medo de inadimplência e continuamos investindo como sempre em crédito para o agro.
Eduardo Vargas (SUNO): A gente sabe que existe uma parte do mercado de capitais suprir algo que a gente sabe que o setor bancário tem um pouco mais de dificuldade que são créditos que as vezes tem um pouco mais de risco, tem um teor diferente e o produtor ou qualquer outra parte vinculado ao agro consegue pegar esse crédito. Explica como funciona a estruturação da operação da Multiplike que acaba suprindo essa demanda do agro.
Volnei Eyng (Multiplike): A nossa operação é uma operação extremamente moderna para empresas que vendem para o agricultor, a gente chama ela de “operação risco-sacado”. Uma revenda de fertilizantes ou de máquinas ou de insumos agrícolas vende para o produtor rural e a gente assume o risco dessa operação.
Hoje o crédito que chega no agro está mais direcionado aos produtores rurais, a gente chama de “crédito da porteira para dentro”, direcionado ao produtor. Mas o foco da nossa casa lá é atender a revenda, quem atende de máquina, de insumo ou de fertilizantes que vende pra o produtor.
Eduardo Vargas (SUNO): E dos cases que vocês têm hoje, tem algum que você gosta de compartilhar? Alguma operação grande que fizeram nos últimos anos?
Volnei Eyng (Multiplike): Uma operação que vem encaixando muito bem, é que a gente consegue alongar a dívida do produtor rural da revenda. A gente costuma pegar os recebíveis da safra e da safrinha em garantia. Então esse alongamento de prazo dá uma maior qualidade ao passivo da revenda ou do produtor, podendo esticar e dando uma saúde financeira melhor.
Eduardo Vargas (SUNO): Como é a atuação da Multiplike no segmento de FIDCs, e quais são as perspectivas? Porque geralmente outros gestores ou outras partes que a gente conversa aqui estão sempre otimistas nos últimos tempos.
Volnei Eyng (Multiplike): Fidc no Brasil podemos dizer que é recente em relação a crédito, iniciou em 2001. As casas, nos primeiros 10 anos não cresceram tanto, mas nos últimos 7/8 anos vêm crescendo muito, especificamente depois do coronavírus.
Hoje é uma indústria de 380 bilhões de reais, mas a nossa casa, a nossa gestora, a nossa asset administra fundos de FIDC multicedente e multissacado, trabalhamos com vários cedentes e vários sacados. E essa gestão a gente se vê cada vez mais otimista porque hoje as empresas vêm entrando em um movimento de desbancarização do crédito.
Nossa operação ela lembra um pouco de crédito bancário porque o FIDC multicedente/ multissacado tradicionalmente as cotas júnior ele tem um dinheiro proprietário, então parecido com o Índice Basileia que é um dinheiro que é do dono da casa e ele acaba ficando com a rentabilidade. E também isso acaba dando conforto ao investidor porque a perda acaba caindo sobre essa cota júnior.
Então é uma operação que vem crescendo, e vem escalando mesmo, e vem sofisticando o mercado e as empresas estão cada vez mais abertas a terem uma opção de crédito além de banco. Até porque, em momentos de estresse, é tradicional que a gente mantenha as linhas de crédito e o banco acaba recolhendo um pouco antes.
Eduardo Vargas (SUNO): E quais são as vantagens dos FIDCs? Tem vantagens tributárias, tem algumas coisas atreladas que fazem esse tipo de produto ser mais atrativo que outros tipos de crédito?
Volnei Eyng (Multiplike): Tem, tanto do lado do tomador quanto do investidor. Para quem é investidor de FIDC, ele acaba pagando imposto apenas quando ele retira o rendimento mesmo, então até ali ele tem essa vantagem. E na área do tomador, em relação a tributação, o custo que ele paga em uma operação pode compensar com FIDC.
Eduardo Vargas (SUNO): E olhando para alguns números de vocês, eu vi que vocês têm o Índice Multiplike de Devedores, que é o IMD que vocês mensuram como está a taxa de inadimplência do setor. Explica um pouco como funciona e como é que está esse número hoje?
Volnei Eyng (Multiplike): Esse número, o Índice Multiplike de Inadimplência em FIDC ele vem melhorando conforme a taxa Selic. Ano passado, no primeiro semestre, uma Selic alta e logo depois o caso Americanas, todo o mercado deu uma aguentada de crédito. Então teve um aumento na inadimplência, um pouco porque o mercado secou e gerou uma inadimplência, muito consequência pós coronavírus também, acabando os créditos direcionados de FGI.
Mas após essa situação toda, com a diminuição da Selic que se deu a partir de julho de 2023 que estava em 13,75%, começou a diminuir a inadimplência em parcimônia conforme a Selic vinha diminuindo.
Hoje a Selic já está no menor patamar que já esteve desde julho e a queda da inadimplência vem acompanhando, com números melhores inclusive, que os números de inadimplência nos bancos. Os FIDCs estão cada vez mais sofisticados e com uma melhor análise de crédito para o conforto do investidor, assim como também uma segurança para quem toma o crédito de que esse funding nunca vai faltar.
Eduardo Vargas (SUNO): Olhando para a inadimplência ainda, a gente vê que nos bancos que boa parte reportou um pico no segundo semestre do ano passado, outros viram o pico em dezembro mais especificamente. A tendência, vendo hoje, você citou os eventos de crédito onde a gente teve Light e Americanas, hoje deu uma pacificada e a tendência é que isso melhore ao longo do ano?
Volnei Eyng (Multiplike): A gente, início desse ano estava mais otimista do que está hoje, a gente esperava uma Selic terminal de 8,5% / 9%. Sobre essa situação de inflação nos EUA um pouco mais quente do que era esperado, junto com o fiscal do Brasil com a parte de custo não tão redondo, a gente acredita que a Selic terminal fique em torno de 10%. Então diminuiu um pouco o otimismo da inadimplência cair mais ainda e as empresas sentirem mais apetite de tomar crédito.
Mas sem sombra de dúvida, é um reloginho em relação a Selic a vontade e o índice de confiança do empresário de tomar crédito. Vem melhorando, estamos confiantes, e acreditamos que dá para encarteirar e crescer sim no segundo semestre de 2024, assim como em 2025.
Eduardo Vargas (SUNO): Dentro dos números que você pode abrir, como vocês cresceram nesses últimos dois, três anos que foram bem pujantes para o mercado de capitais?
Volnei Eyng (Multiplike): O mercado nos últimos dez anos, mais especificamente, ele ficou mais aberto a desbancarização. Acho que tudo iniciou lá com o efeito Nubank, querendo ou não é um outro tipo de crédito, é para a pessoa física, mas começou a desbancarizar. Depois outras plataformas para investimento começaram a desbancarizar e assim começou.
Porém, crédito para médias e grandes empresas não aconteceu fora das plataformas tradicionais, então a gente sempre procurou um foco na experiência do cliente, trazer um atendimento que os bancos não tinham, um relacionamento de longo prazo com bastante transparência e também com muita automatização.
O cliente sentir diferenciais em termos de tecnologia na hora que ele entra na plataforma e no ambiente Multiplike que ele acaba não encontrando em um banco ou em uma outra asset concorrente nossa.
E acabamos crescendo fazendo crédito para menores empresas, e a partir do momento que fomos nos capacitando a gente acabou caminhando para médias e grandes empresas, e depois disso, para ainda levar mais experiencia de melhor qualidade ao tomador de credito, passamos a segmentar em várias plataformas dividindo os segmentos prestação de serviço, agro e construção civil. E tudo isso acaba chegando lá na ponta como uma melhor experiência ao cliente.
Eduardo Vargas (SUNO): Pra gente fechar, algo que é relevante é o quanto esse mercado de crédito cresceu e o quanto ele ainda tem para crescer. Como você falou, tem o fato da desbancarização e a questão de ele suprir uma demanda que ainda é muito grande no Brasil. Esse mercado tem condições de crescer muito mais nos próximos anos?
Volnei Eyng (Multiplike): Hoje os dados do Banco Central mostram que se originam 170 bilhões de duplicatas por mês no Brasil. Todos os FIDCs multicedente/ multissacado que tem, são cerca de 400, acabam originando aí em torno de 17/18 Bi por mês, então vê que é um marketshare de apenas 10% do mercado. Então a gente acredita que dá pra crescer muito, dá pra multiplicar sim, uma porque, além de tudo, tem um outro mercado de empresas que não securitizavam até agora porque não se sentiam à vontade com o banco, mas que através de uma melhor experiência vão passar a se alavancar. Então é um mercado que tem muito a crescer sim.